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Cavaco Silva: "Sinto tristeza com a situação que vivemos"

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26102010

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Cavaco Silva: "Sinto tristeza com a situação que vivemos" Empty Cavaco Silva: "Sinto tristeza com a situação que vivemos"




hoje é dia de anúncio de recandidatura

Cavaco Silva: "Sinto tristeza com a situação que vivemos"


Presidente da República aborda numa longa entrevista a actual situação política e económica do país. Cavaco Silva explica os passos que tem dado e fala sobre as suas relações com o primeiro-ministro José Sócrates.

Esta é primeira entrevista como candidato ou a última como Presidente?
Terá de esperar pela resposta até terça-feira. Eu disse há muito tempo sobre as presidenciais que iria seguir um calendário próximo ao que os meus antecessores seguiram. Tenho por princípio respeitar a palavra dada. Houve um pequeno atraso de uns poucos dias por causa da questão orçamental. Mas eu tenho coisas importantes a dizer aos portugueses e vou dizê-lo na terça-feira.

Não é apenas uma recandidatura, é também um recado aos portugueses?
Não quero utilizar neste momento a palavra recandidatura. Vou fazer uma declaração à comunicação social. Não é normal antecipar-se o que se vai dizer, estou apenas a acrescentar-lhe que há coisas importantes que quero dizer aos portugueses nesse dia.

Já disse várias vezes, incluindo nos últimos dias, que um Presidente da República é a última reserva de um país em caso de crise grave. Porquê este ênfase nesta altura? A crise que vivemos é realmente grave?
Não sou original nessa afirmação. O meu antecessor usou essa expressão várias vezes e penso que Mário Soares também. Resulta das funções institucionais do Presidente da República. Representa a República, Elepública, é o garante da independência nacional e da unidade do Estado e o garante do regular funcionamento das instituições democráticas. Além disso, é o Comandante Supremo das Forças Armadas. Daqui resulta imediatamente que ele é a última válvula de segurança de funcionamento do sistema. Agora, é sabido que vivemos uma situação particularmente complexa, que pode considerar-se mesmo grave. Eu utilizo a palavra situação.

Não crise?
Não estamos a viver numa crise política, ela pode surgir, mas temos um Governo que tem a confiança da Assembleia da República. O programa passou, as moções de censura que foram apresentadas foram rejeitadas, portanto, a Assembleia não retirou até este momento a confiança ao Governo, que tomou posse há precisamente um ano.

Essa crise pode acontecer?
Nessa altura, podemos falar com mais propriedade de crise política. Neste momento, espero bem que não aconteça.

«Entendi que todos os partidos deviam conhecer bem a situação do país e ter a informação que o Presidente tinha»
«Entendi que todos os partidos deviam conhecer bem a situação do país e ter a informação que o Presidente tinha»
Mas tudo o que aconteceu recentemente e que o levaram inclusivamente a chamar a Belém os partidos não foi na previsão de uma crise política?
Perguntou-me se estávamos numa crise política, isso é coisa diferente. Eu chamei os partidos face a uma afirmação de alguma forma formal no fim de um Conselho de Ministros, feita por um membro do Governo e depois reiterada pelo primeiro-ministro, de que o Governo não teria condições para governar sem a aprovação do Orçamento. Quer dizer que surgiu com essa afirmação uma possibilidade que eu, como Presidente da República, não posso ignorar. Quando chamei as forças políticas, forneci-lhes toda a informação relativa às consequências de uma crise política no país em consequência do Orçamento. E forneci informação bastante detalhada relativamente à dependência da economia portuguesa dos mercados financeiros internacionais, da impossibilidade de ela funcionar satisfatoriamente sem que o Estado, os bancos e os agentes económicos possam recorrer aos mercados financeiros internacionais. Entendi que os devia alertar para a fase que se iria seguir, que era a da negociação à volta do Orçamento do Estado depois da sua apresentação pelo Governo. Entendi que todos os partidos deviam conhecer bem a situação do país e ter a informação que o Presidente tinha, o que as agências de rating pensavam sobre Portugal caso não existisse o Orçamento, qual a informação que tinha de organizações internacionais, mesmo de governos de outros países e fui a um ponto que nunca tinha ido, de fazer um comunicado oficial a dizer isto que referi.

Essa possibilidade de uma crise política foi afastada, neste momento?
Não posso dizer isso. Abre-se agora um processo negocial entre o Governo e os partidos políticos na Assembleia da República e eles têm propostas a apresentar que, entendo, devem ser analisadas com muito cuidado e com espírito de abertura tendo em vista eventualmente mudar a proposta de Orçamento que foi apresentada pelo Governo. É normal em democracia. Quando um Governo não tem uma maioria na Assembleia da República, deve procurar parceiros com quem negociar. É assim que faz o presidente do Governo espanhol. Às vezes procura no País Basco, às vezes na Catalunha e até nas ilhas. É assim que aconteceu agora na Holanda. Em democracia é normal que um governo sem maioria responda a esta exigência que sobre ele impende de criar condições favoráveis a um ambiente propício à negociação, ao diálogo, a alcançar o produto final do compromisso. Agora, também se espera dos partidos da oposição uma cultura de responsabilidade. Eu disse-lhes que considero que seria extremamente grave para o país enfrentar uma crise política neste momento, na medida em que essa crise política não pode ter solução antes de uma deterioração muito acentuada da situação económica e social, dado que o Presidente da República não pode convocar eleições antes de 9 de Março. Mesmo assim, é preciso reunir o Conselho de Estado, ouvir os partidos, têm de passar cerca de 60 dias até que se possa realizar. Cada um pode imaginar o que seria, por exemplo, termos um Governo de gestão que não pode tomar decisões quando já neste momento o nosso sistema financeiro, os nossos agentes económicos têm extrema dificuldade em recorrer aos mercados financeiros internacionais. A nossa economia na situação atual não pode funcionar satisfatoriamente sem esse recurso. Os bancos têm responsabilidades para com o exterior a curto prazo, têm que ser pagas para com o Banco Central Europeu e, portanto, a consequência seria um aperto brutal do crédito com um efeito contracionista sobre a nossa economia muito forte e, consequentemente, um aumento do desemprego. Como Presidente da República, entendo que devo utilizar todos os instrumentos à minha disposição no quadro das minhas competências para evitar que uma crise política aconteça. Mas não posso dizer, porque não está na minha mão, que essa possibilidade está totalmente afastada.

«Não é o Presidente da República que pode impor aos partidos que façam o que eles não querem fazer. É uma ilusão que alguns têm»
«Não é o Presidente da República que pode impor aos partidos que façam o que eles não querem fazer. É uma ilusão que alguns têm»
Veria com bons olhos um Governo de coligação?
Eles são determinados pelos partidos. Essa foi a pergunta que em devido tempo eu coloquei aos partidos. Eu sei a resposta que obtive mas ela depois surgiu de forma pública e não digo nada que os portugueses já não saibam, que não há disponibilidade das forças políticas para um Governo de coligação.

Está a referir-se ao período logo a seguir às eleições?
Não... eu tenho contactos com as forças políticas. É uma pergunta que quando encontro os partidos não posso deixar de colocar. Quais são as possibilidades de entendimentos mais ou menos formais que garantam melhores condições de governabilidade. Eu sei o que os partidos pensam, mas os portugueses em geral sabem que neste momento não se trata de uma hipótese realista. E não é o Presidente da República que pode impor aos partidos que façam o que eles não querem fazer. É uma ilusão que alguns têm.

Então por várias vezes colocou essa pergunta aos partidos?
Isso faz parte das conversas normais com os partidos.

Todo este clima já o levou a falar do risco de uma situação explosiva em Janeiro deste ano. Estamos agora mais perto dessa situação?
Os meus alertas não começaram nessa mensagem de Ano Novo, que são as que têm mais impacto junto da população. Em outubro de 2007, no Congresso dos Economistas, em Lisboa, disse que face à manutenção a nível elevado do desequilíbrio das contas externas, a economia portuguesa caminhava para uma situação em que seriam fortíssimos os constrangimentos vindos do exterior. Foi um alerta já muito claro. Depois, em 2009, disse "Portugal não pode continuar a endividar-se durante mais tempo no estrangeiro ao ritmo dos últimos anos. Quando se esgota a possibilidade de endividamento só resta a venda de bens ou empresas ao estrangeiro". Por exemplo, vender a Cimpor. Porque a venda de empresa é uma outra expressão do excesso de endividamento de um país. Depois, no discurso de posse ao Governo, há um ano, fui muito claro no alerta quanto às restrições que seriam impostas do exterior, se não houvesse contenção nos desequilíbrios externos e no aumento do endividamento externo. Depois, cheguei à conclusão que teria de dar o passo mais forte que um Presidente da República pode dar em público, que foi na mensagem de Ano Novo, ao dizer que caminhamos para uma situação explosiva. Numa intervenção que fiz há sete anos numa homenagem a Silva Lopes, antecipei de alguma forma o que está a acontecer. Chama-se "Dores de Cabeça" e digo que o país não pode endividar-se sem limites, que no caso da continuação do desequilíbrio das nossas contas externas nós teremos de pagar um prémio de risco elevado, isto é, a taxas mais elevadas, surgirá racionamento do acesso aos mercados externos e os nossos ativos e empresas começam a ser transferidos para o exterior. E depois concluo: "O ajustamento torna-se assim inevitável, isto é, a despesa das famílias, das empresas e do Estado tem de ser contida. O ajustamento será tanto mais forte e penoso quanto mais o endividamento externo tenha sido encaminhado para a expansão do consumo e o investimento de baixa produtividade". Desde que se saiba um pouco de macroeconomia, não se tem dificuldade em fazer essa antecipação.

«A situação mais dramática é o elevado desemprego, 10,6%, quase 600 mil desempregados»
«A situação mais dramática é o elevado desemprego, 10,6%, quase 600 mil desempregados»
As pessoas que o abordam na rua apelam-lhe e mostram grande descrença...
A palavra explosiva foi utilizada em relação à situação dos últimos tempos: a combinação de desemprego elevado, com uma situação de dívida externa que nos coloca restrições na capacidade de decidir a política que queremos. Lembra-se quando utilizei uma palavra que quase não se utiliza, que tínhamos chegado a uma situação insustentável no discurso de 10 de Junho? Só quem anda totalmente distraído é que não sabia que essa palavra consta dos relatórios do Banco de Portugal, das instâncias internacionais. Se nós não estivéssemos numa situação insustentável, então porque é que o Governo tinha apresentado um PEC 2, a Comissão Europeia colocado Portugal numa situação de défice excessivo, porque o ministro das Finanças no debate na Assembleia da República disse que a situação era de emergência? Era óbvio que a situação era insustentável e o Governo estava a fazer esforços para conseguir colocá-la num nível sustentável. Nós não conseguimos neste momento prever o que aconteceria do ponto de vista social se por acaso tivéssemos uma crise política com repercussões muito fortes na situação económica e no mercado de trabalho. A situação mais dramática é o elevado desemprego, 10,6%, quase 600 mil desempregados, com uma forte incidência entre os jovens, mais de 20% dos que procuram emprego nas últimas quatro semanas. Que se combina com o aumento de situações de pobreza, em particular o que se chama os novos-pobres, que até há pouco viviam situações de conforto e que agora sofrem carências até de ordem alimentar. Essa é a expressão mais dramática desta situação de crise. Por isso, costumo dizer que todas as políticas públicas (e se pudéssemos influenciar as estratégias empresariais também), deviam ser avaliadas em termos do seu efeito sobre o emprego e sobre a competitividade das empresas. Não tenhamos ilusões: não haverá possibilidade de ultrapassarmos estas dificuldades de forma sustentável sem um reforço da competitividade externa das nossas empresas e um aumento da produção de bens concorrendo com a produção estrangeira. É uma ilusão pensar que o gravíssimo problema que temos no desemprego e no endividamento externo possam ser resolvidos sem uma reorientação da produção nacional para os bens que concorrem com a produção estrangeira, em que se incluem os serviços, como seja o caso do turismo.

Tem esperança que este Orçamento do Estado seja aprovado?
Tenho, com certeza. Eu sou um homem de esperança e tendo em consideração as informações que vou conseguindo resolver. Neste dia, só posso dizer que esta é uma matéria dos partidos políticos, só a Assembleia da República pode aprovar o Orçamento do Estado, é sua competência exclusiva. A responsabilidade que impende sobre os partidos políticos é muito grande. Eu só posso ter esperança de que, conhecendo todos a situação do país, percorram um caminho de aproximação para que tenhamos um Orçamento.

E com este Orçamento do Estado vamos poder ter crescimento? A União Europeia e os mercados exigem-nos um plano de crescimento...
Não sei se há alguém em Portugal que goste deste Orçamento. Não sei, não sei... Durão Barroso disse que a situação era má e que podia passar a péssima. O Orçamento do Estado que o país vai ter, assim o espero, é determinado, em boa parte, pelas fortes restrições externas que o país enfrenta. E não vale a pena insultar os banqueiros internacionais, o FMI, que eles não nos ligam nada. Somos nós que precisamos de lhes pedir emprestado, e são eles que decidem. Nós só nos livramos destas condicionantes se não precisarmos com frequência e em grandes montantes de pedir emprestado ao estrangeiro.

Não tem que associar-se um plano de crescimento a isto?
É preciso fazer opções por forma a que o Orçamento do Estado que seja aprovado, seja o que permite os melhores resultados possíveis em termos de crescimento da economia e de criação de emprego. Por isso falei nos dois parâmetros. Quando temos de escolher entre dois investimentos para os quais ainda existem recursos financeiros devemos analisar: este tem muito ou pouco efeito sobre a criação de emprego? É muito trabalho intensivo ou muito capital intensivo? Em segundo lugar, aumenta ou não a nossa competitividade externa? Faz aumentar a nossa dívida externa ou não? E procurar escolher entre aquele que, se possível, reforça a nossa capacidade de exportação ou diminuição de importações e que cria mais emprego. Mas estas são as opções que compete ao Governo fazer, que conduz a política geral do país. Um Presidente não se deve pronunciar sobre medidas concretas. Aponta caminhos, rumos, sublinha estratégias, mas deve evitar pronunciar-se sobre medidas concretas. Eu cheguei a falar de investimentos públicos, mas nunca falei de um investimento específico. Falava na análise custo-benefício, se os benefícios sociais que resultam são maiores que os custos sociais, o impacto sobre as exportações e o emprego. Um Presidente tem sempre aquela função fundamental de reserva e último recurso e tem de ser muito rigoroso em relação à independência em relação às forças políticas. Não pode dar azo a que as suas palavras sejam usadas como armas de arremesso de uns contra os outros.

«O Presidente não governa, não pode legislar, não tem ministérios»
«O Presidente não governa, não pode legislar, não tem ministérios»
Nunca lhe ocorreu demitir o Governo ou dissolver a Assembleia da República? Todos os presidentes dissolveram a Assembleia, é quase uma inevitabilidade? Há coisas que me surpreendem em Portugal. Continuo a ler nos jornais que o Dr Jorge Sampaio demitiu o Dr Santana Lopes. É mentira, ele dissolveu a Assembleia. Aparecem pessoas a dizer que o Presidente deve demitir o primeiro-ministro. O Presidente pode demitir o Governo, não o primeiro-ministro, para assegurar o normal funcionamento das instituições democráticas, coisa que nunca foi feita por nenhum Presidente desde a revisão constitucional de 1982. Porque teria de justificar porque é que as instituições não estão a funcionar normalmente e ainda por cima com uma Assembleia que mantém toda a confiança no Governo, isto é, não a retirou. Também já li: o Presidente devia dissolver a Assembleia. Não pode, nos últimos seis meses do mandato.

É acusado por alguns setores de que poderia ter intervindo mais...
Existem duas críticas totalmente contraditórias: uns dizem que o Presidente devia ser mais interventivo e exigente junto do Governo, esquecendo a leitura séria e responsável da Constituição. Foi por isso que os aconselhei a ler o livro mais complexo "Os Poderes do Presidente", do prof. Gomes Canotilho e Vital Moreira. Outros dizem que o Presidente intervém demasiado nas áreas do Governo. Isso é a demonstração que o Presidente tem tido uma atuação equilibrada e de bom senso. Nas minhas funções, procuro atuar com bom senso, ponderação e estudando as questões. Sou um homem de trabalho, estudo as questões com muita profundidade para as reuniões do primeiro-ministro, qualquer audiência que eu tenha, para a defesa dos interesses portugueses nas reuniões com chefes de Estado, primeiros-ministros, comissários da União Europeia. É assim que exerço a minha função.

A dissolução esteve sempre afastada até agora?
Como é que um Presidente pode encarar a hipótese de dissolver a Assembleia quando esta mantém a confiança num Governo? Antes de nomear este Governo, chamei os partidos políticos e todos me disseram que eu devia nomear o Governo do Partido Socialista presidido pelo eng. José Sócrates. O programa foi apresentado na Assembleia e passou. Já houve uma moção de censura e foi rejeitada. Recordo-me que o Dr. Jorge Sampaio dizia que o Presidente não tem responsabilidade pelas políticas do Executivo. É verdade. O Presidente não governa, não pode legislar, não tem ministérios.

Mas Jorge Sampaio dissolveu a AR...
E Mário Soares também, e o general Eanes. Sou de facto o único Presidente que nunca dissolveu a Assembleia. Sou um defensor da estabilidade política. Não considero que seja um fim em si mesmo, é uma condição de governabilidade e para que o país possa enfrentar os seus problemas. Por isso faço muitos apelos, às vezes nem sempre com sucesso, para que os partidos evitem as querelas artificiais. E tenho-me empenhado muito, mesmo em tempos de crispação política, a que haja um espírito de abertura ao consenso, ao diálogo, à negociação. Foi isso que aconteceu por exemplo em relação à reforma da justiça, às finanças regionais, à reforma das Forças Armadas, da segurança interna. Empenho-me muito para que o ambiente seja mais distendido. Gostaria que o ambiente fosse mais distendido, mais favorável ao diálogo, à concertação. Devo dizer-lhe que me surpreende muitas vezes o tom dos nossos debates quinzenais. No meu tempo não era assim. É um tom de uma crispação que para um observador externo é demasiado. Nós precisamos de serenidade no país e os agentes políticos devem dar o exemplo.

As pessoas estão muito revoltadas com os políticos. Há um esgotamento do regime?
Eu compreendo as pessoas, as notícias não são suscetíveis de lhes criar otimismo, criam-lhes angústias quanto ao futuro. Mas é preciso que estejam conscientes do que o Presidente pode fazer nos termos constitucionais. Eu jurei cumprir e fazer cumprir a Constituição. Eu levo muito a sério a palavra jurar. Respeito muito os poderes dos outros órgãos de soberania, mas também exijo que respeitem os meus. Eu sinto algum incómodo com a situação que estamos a viver e, digo, alguma tristeza. Como economista e tendo presente aquilo que disse há sete anos, tenho alguma tristeza com a situação. Confesso que não esperava que estivéssemos hoje na situação em que estamos. Fomos também atingidos pela crise financeira internacional, não podemos esquecer isto, há algum contágio da situação grega, ultimamente da situação da Irlanda. Aliás, cheguei a ser atacado por dizer que achava que a situação da Irlanda era pior do que a nossa. São pessoas que fazem declarações para a comunicação social antes de estudar as matérias. A Espanha conseguiu libertar-se um pouco.

Foi primeiro-ministro durante dez anos, é Presidente há cinco, eventualmente recandidata-se. Era este Portugal que esperava encontrar?
Não. As minhas ambições para Portugal, nas quais me tenho empenhado ao longo da minha vida política, apontavam para um Portugal muito diferente. Eu sei bem a situação em que deixei Portugal em 1995 e tenho muito orgulho. Aliás, relatórios internacionais que são isentos sobre a situação portuguesa, ou as palavras de Jacques Delors, um socialista francês, deixaram-me algum orgulho. Eu tinha a ambição, que não abandono, que Portugal se aproxime da média do rendimento da UE. Eu acredito que podemos apesar de tudo vencer. Já passámos por situações muito difíceis, acredito na vontade inabalável do povo português de ultrapassar as dificuldades. Lembro-me bem dos acordos com o FMI, participei na delegação técnica que fez as negociações, mas Silva Lopes explicou, e bem, que neste caso é diferente. Aconselhava que se ouvissem as suas palavras, é um homem muito conhecedor, analisa muito bem as matérias e é sério na sua apresentação.

«As conversas entre Presidente e primeiro-ministro são do domínio reservado»
«As conversas entre Presidente e primeiro-ministro são do domínio reservado»
Neste seu fim de mandato, o que guarda de mais gratificante? Para mim é muito gratificante a proximidade que tenho mantido com os portugueses. Estive em cerca de 200 concelhos. Falei com muita gente, empresários, trabalhadores, cientistas, voluntários, organizações de solidariedade social, universidades. Nós encontramos pelo pais fora jovens empresários, empreendedores, que já pensam no mundo global, que já não estão à espera do subsídio do encosto do Estado e partem para uma aventura bem pensada. Eu chego a casa bastante satisfeito, só que depois penso "já encontrei 50, precisávamos de cinco mil". Nas universidades há uma atitude diferente, uma interligação com as empresas, a preocupação de investigar para criar valor para as empresas. E uma nova atitude por parte dos autarcas, que estão a dar o contributo para que a recuperação possa ocorrer e o desemprego possa ser menor. É a nova preocupação dos autarcas no fortalecimento da capacidade produtiva do concelho, o aproveitamento dos recursos próprios, floresta, património cultural, paisagem, produtos rurais. Há uma atitude diferente que tenho estimulado e apoiado, são eles que conhecem os casos difíceis. Na parte económica, são agentes de mudança nos respetivos concelhos e no atenuar dos problemas sociais. Esta proximidade que tenho com os portugueses é algo que me estimula e motiva para enfrentar os problemas mais complicados que me chegam às mãos. Também recebemos mais de duas mil cartas por ano, e algumas até vão para a minha casa. Muitos portugueses não têm bem a noção onde param as capacidades do Presidente, acham que tem capacidade governativa de tomar medidas, mandar o Governo fazer isto ou aquilo. Não pode, como é óbvio. Mas às vezes são casos dramáticos e sentimos que não temos meios para fazer. Muitas são enviadas para os ministérios, para o Governo, no fundo é o exercício de influência junto dos poderes públicos. Talvez seja esta a questão mais gratificante.

E a menos gratificante?
É melhor não identificar. Sou um homem de trabalho, trabalho muito na minha função. Há assuntos mais gratificantes que outros mas o Presidente não pode fugir a nenhum deles.

Como são as relações institucionais com o Governo?
As relações entre a minha Casa Civil e a presidência do Conselho de Ministros são muito fluidas na análise dos diplomas que aqui chegam. Resolvem-se as dificuldades.

Porque é que os portugueses têm a perceção que entre o sr e o primeiro-ministro as coisas não são tão fluidas?
Penso que isso foi muito criado pela comunicação social e não corresponde absolutamente nada à realidade. Se fizer a comparação com outros presidentes e primeiros-ministros, certamente que as minhas não são menos cordiais. As minhas reuniões com o primeiro-ministro são de trabalho. As relações são de absoluta normalidade. Depois, há uma situação que penso nos dá satisfação a ambos, é que as nossas conversas nunca vieram a publico. Penso que é caso único. Ninguém sabe. Só eu sei e só ele é que sabe. Deve ser assim. As conversas entre Presidente e primeiro-ministro são do domínio reservado. Penso também que é dos únicos casos de relações entre Presidente e Primeiro-ministro em que não ocorreram dissonâncias em matéria de política externa. As coisas são concertadas previamente com o primeiro-ministro ou o ministro dos Negócios Estrangeiros. Passaram-nos pela mão casos muito complicados, como o reconhecimento do Kosovo, os prisioneiros de Guantanamo, o envio de tropas para o estrangeiro, a viagem a Angola, que penso teve efeitos visíveis na defesa dos interesses portugueses. Em matéria de Defesa Nacional, estamos agora a preparara a Cimeira da NATO, reuni com o ministro da Defesa. A nomeação dos chefes de Estado-maior. Todas essas matérias são concertadas com sentido de responsabilidade e reserva. Foram determinados meios de comunicação social que acharam que deviam projetar essa imagem. Não quer isto dizer que o primeiro-ministro concorda com tudo o que eu digo ou vice-versa.. Mas que as reuniões decorrem com total normalidade, isso ninguém pode contestar.

O senhor falou sistematicamente que é preciso falar verdade...
Isso cada um tem a sua interpretação. Umas das razões para o povo português aceitar a minha proximidade é precisamente porque me atribui credibilidade e falar verdade. É importante falar verdade. A verdade é geradora de confiança, induz comportamentos por parte dos cidadãos que ajudam a resolver os problemas. Um cidadão mal informado toma decisões erradas, para si e para o país. Por isso os economistas dizem que a informação é um bem público, que deve ser fornecida nas quantidades possíveis aos cidadãos para que eles possam decidir bem. A verdade é muito importante em política economia em particular para que as pessoas possam comportar-se de uma forma que ajude a resolver os problemas nacionais e não a agrava-los. Eu penso que a população acha que eu falo verdade.

http://aeiou.expresso.pt/cavaco-silva-sinto-tristeza-com-a-situacao-que-vivemos=f610913
BTBRAVO
BTBRAVO
2º COMANDANTE
 2º COMANDANTE

PAÍS : Cavaco Silva: "Sinto tristeza com a situação que vivemos" 5837_310
MENSAGENS : 6247
LOCALIZAÇÃO : Lisboa
EMPREGO : BRIGADA DE TRÂNSITO
INSCRIÇÃO : 05/02/2009

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solamente

Mensagem Ter 26 Out 2010 - 14:13 por solamente

Cavaco Silva anunciou esta noite a sua recandidatura à Presidência da República e prometeu uma «campanha sóbria», «sem um único outdoor», porque os tempos são de austeridade.
«Quero anunciar aos portugueses que depois de uma profunda reflexão decidi candidatar-me à Presidência da República. Uma decisão como esta nunca é fácil de tomar», começou.
O actual chefe de Estado assumiu um «sentido de responsabilidade» e concluiu que tinha «o dever» de se recandidatar perante a «situação extremamente difícil» que o país atravessa, repleto de «incertezas e até angústias».
Repetindo várias vezes a palavra «experiência», Cavaco prometeu utilizar os seus «conhecimentos» para «ajudar o país a encontrar um rumo».
«Sei que posso ser útil a Portugal. Move-me a consciência da gravidade dos problemas e por isso a minha campanha será sóbria e contida nas despesas. Não colocarei um único outdoor. Sei que isso me pode prejudicar, mas quando tantos sacrifícios são exigidos aos portugueses os agentes políticos devem dar o exemplo», disse.
Prometendo «dignidade na campanha», garantiu não se deixar «arrastar» por qualquer linguagem imprópria, sem nunca se referir a qualquer um dos seus adversários. «Comigo os portugueses sabem com o que podem contar. Os portugueses sabem distinguir quem fala verdade de quem semeia ilusões e utopias», acusou.
O Presidente da República puxou a brasa à sua sardinha, questionando: «Em que situação se encontraria o país sem a acção intensa e ponderada, muitas vezes discreta, que desenvolvi? O que teria acontecido sem os alertas e apelos que lancei na devida altura, em os caminhos que apontei, os compromissos que estimulei, a defesa dos interesses nacionais que promovi?»
No entanto, admitiu que a sua intervenção «podia ter sido mais bem aproveitada pelos diferentes poderes do Estado».
O chefe de Estado frisou que um Presidente tem de ter «isenção e imparcialidade» perante os partidos, para «favorecer o diálogo, a negociação e a procura de consensos», garantindo que sempre foi um «mediador», um «arbitro independente».
«Os portugueses conhecem-me como um homem de trabalho (...) Sendo certo que ao PR não cabe governar ou legislar, não deve, contudo, deixar de exercer uma magistratura activa»`, afirmou.
Apontando o desemprego e o endividamento externo como os principais problemas do país, apelou à «união de esforços» para a recuperação económica que acredita ser possível desde já.
Sobre o seu passado social-democrata, Cavaco frisou que não se candidata por nenhum partido. «Qualquer Governo contará sempre com a minha cooperação, serei sempre um referencial de equilíbrio e estabilidade. Sou avesso a intrigas político-partidárias», assegurou.
Cavaco Silva chegou por volta das 20h00 ao Centro Cultural de Belém. Na Sala Fernando Pessoa, local onde já há cinco anos anunciara a sua candidatura presidencial, estava a família na primeira fila, assim como algumas dezenas de convidados. Entre os quais João Lobo Antunes, pela segunda vez mandatário nacional da sua candidatura a Belém, Joana Carneiro, mandatária da Juventude, Diogo Vasconcelos, que terá o cargo de mandatário digital, e Vasco Valdez, mandatário financeiro. Luís Palha será o director de campanha.
Presentes estiveram também várias figuras social-democratas como Leonor Beleza, Manuela Ferreira Leite, Mota Amaral e Marques Guedes.
A notícia da recandidatura de Cavaco Silva foi dada por Marcelo Rebelo de Sousa no seu habitual espaço de comentário da TVI. http://www.tvi24.iol.pt/politica/pr-cavaco-silva-presidenciais-recandidatura/1202871-4072.html

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